sábado, 21 de fevereiro de 2015

Pioneiros pouco conhecidos ou quase esquecidos, ASM-N Pelican e o ASM-N-2 Bat.






  

 

Pioneiros pouco conhecidos ou quase esquecidos, ASM-N Pelican e o ASM-N-2 Bat.


Autor: João Gilberto A. Pontes

O Precursor





Quando se fala em primeiras armas guiadas da segunda guerra mundial, o que geralmente e imediatamente vem à mente alemã é a bomba radio controlada FRITZ-X e seus análogos. 
Poucas pessoas sabem que em 1944 os Estados Unidos tinham em seu arsenal de armas, uma arma que iria mudar o desenvolvimento deste tipo de armas. 

Chamava-se - ASM-N-2 Bat, era a   primeira bombas planadoras, com dispositivo anti-navio completamente independente de guiagem humana até o seu alvo (lembre-se que as armas alemãs eram guiadas ou por fio ou rádio a partir de seu lançador). 
 
Mas para se chegar na história desta arma, deve-se contar a evolução que chegou-se até ela. 

O trabalho em armas guiadas dos Estados Unidos começou em 1941. O nível enorme de desenvolvimento da eletrônica dos Estados Unidos (na época, o maior do mundo) e da indústria de energia, permitia implantar um programa de desenvolvimento de larga escala, neste tipo de desenvolvimento. 
 
Em 19 de janeiro de 1941 estavam trabalhando em uma série de protótipos de armas e bombas guiadas - desenvolvidas em parceria pela Rádio Corporation of América e do National Bureau of Standards. 
 
Enquanto os alemães escolheram entre uma variedade de mais fácil orientação de comando via rádio com um sistema de detecção óptica, os americanos começaram a trabalhar imediatamente em todas as direções. Já em 1942, os experimentos foram coroados de êxito na forma de um projeto de bomba com aparência de controlada, chamada de bomba "Pelican" (designação oficial ASM-N), com orientação radar semiativo, o que para época já era um salto em tecnologia enorme, pois já abandonava a necessidade de uma guiagem de bordo do lançador.
Este sistema usava um avião de busca que localizava o alvo e soltava a bomba planadora e os sinais de radar refletidos a partir do alvo guiavam ela até o alvo, o "Pelican" pretendia destruir submarinos que vinham de noite à tona, eram lançados a grande altitude por aeronaves de patrulha que faziam a primeira localização do alvo, e tinham de manter o alvo iluminado pelo sinal de radar que era captado por um receptor do "Pelican" e que levava ele até o alvo.

Pelican Protótipo na foto abaixo.
 
Este sistema forçava o avião alvo a permanecer na área e perto do alvo, o que era muito perigoso, pois estas ficavam muito vulneráveis quando mergulhavam em ataque e se expunham ao fogo antiaéreo inimigo. 

A fraqueza deste tipo de ataque ao submarino, era um problema conhecido – além disto, ao mergulhar em ataque e ter de ficar na área iluminado o submarino alemão em patrulha, estes defensivamente também tinham o procedimento de mergulhar rapidamente ao ver a menor visão de aeronaves, também os PB4Y não podiam mergulhar e soltar a bomba com relativamente precisão de uma distância relativamente longa. 

O "Pelican" foi uma boa saída. As experiências com o funcionamento destas bombas começaram em 1942 (portanto antes das Fritz X), e infelizmente não obtiveram nenhum afundamento em suas poucas surtidas de ataque testes, estes testes foram levados até 1944 e foram interrompidos, não por causa da bomba ter se provado ruim - apenas porquê nas mesas de projeto e nas ideias dos designers nasceu uma ideia mais eficaz. 

Por isso, os engenheiros se propuseram a fazer uma bomba completamente independente de dados do avião transportador.
 

Nasce a BAT
 
Paralelamente a isso, a Marinha dos EUA desenvolveu uma bomba planador com um   radar totalmente ativo usando uma estrutura semelhante à da Pelican e uma carga de bombas de 450 até 1000 libras.
 
A diferença era de que no caso do Pelican ele recebia o alvo do radar avião transportador que   varria a área com o seu radar (foto abaixo) e ao localizar investia e soltava a bomba com um receptor do sinal emitido do avião ficava procurando o sinal e se direcionado para ele, este sistema tinha uma demora na resposta que tornava ele meio lento, além de expor o avião transportador.
Já no sistema novo ele mesmo tinha um radar e emitia sinais em todas direções e captava o retorno do reflexo destes sinais sobre o alvo, exatamente como a eco localização usada pelos morcegos, daí nasceu o apelido de Bat (morcego em inglês).
 
E embora originalmente fosse designada de bomba MK 57, isso logo foi mudado para Swod MK 9 (Swod = Special Weapon Ordnance Dispositive; Pelican então tornou-se Swod MK 7).



Testes de lançamento e ataque do Bat em finais de 1944 foram relativamente bem-sucedidos, e a arma foi declarado pronta para combate em janeiro de 1945. Tornou-se assim a primeira arma de sucesso guiada, desenvolvida pela Marinha dos Estados Unidos, e, na verdade, primeiro míssil autoguiado operacional do mundo, pois não havia necessidade de entrada do operador após o lançamento.
 
Com a declaração de apto para combate ela recebeu a designação naval de “ASM-N-2 Bat", no cerne de seu projeto estava baseado no mesmo corpo do "Pelicano", com suas asas, à ré em forma de T montagem cauda. A carga de era uma bomba padrão de 450 libras perfurante (aceitava até 1000 libras se fosse uma bomba comum) .
 
 
A principal vantagem do "ASM-N-2 Bat" era o seu sistema de orientação. Sob o radome era preso um radar de aviação de antena compacta. Enviava um feixe refletido a partir do alvo, e recebido pela antena da bomba, colocando ele sempre em um curso em que o pulso seria cada vez mais forte - ou seja, bem no alvo. Para suprir energia ela tinha um gerador compacto e o piloto automático que guiava a bomba, foi criado pela “Bendix Aviation" 

Foto abaixo - sistema de radar acoplado na proa
  
Foto abaixo - sistema de guiagem - gerador e baterias
 
 
Foto abaixo - sistema de radar no seu berço desacoplado da proa 

 

Em combate 
 




A primeira ação da “ASM-N-2 Bat" teve lugar no Outono de 1944, e foi usada contra os navios japoneses para o restante da   guerra, mas a taxa de sucesso foi medíocre na melhor das hipóteses - a bomba atingiu o alvo em 2 de 4 casos! 
 
Enquanto alguns navios foram severamente danificados, os inconvenientes do radar primitivo também se tornou óbvio. Ao atacar um navio perto da terra (por exemplo, no porto), ASM-N-2 Bat tendiam a selecionar todos os tipos de "alvos" indesejados, como docas, montanhas, etc.
 
Por causa destes problemas, o uso da   ASM-N-2 Bat foi relativamente limitada. Almirante Nimitz, embora não fosse particularmente atento a essas inovações técnicas, ficou impressionado com as capacidades de "ASM-N-2 Bat" e recomendou ser implantado em aeronaves PB4Y Privateer, que foi a primeira plataforma de lançamento para a arma, mas outras aeronaves também foram modificados para lançá-la, incluindo o F4U Corsair, Lockheed PV-1 Ventura, B-17, SB2C Helldiver, Lockheed P2V Neptune e TBF Avenger de patrulha.

















Implantação da bomba "ASM-N-2 Bat" começou em Janeiro de 1945 em partes das aeronaves de patrulha no Pacífico. É claro que, ela foi originalmente planejada para ser usada no Atlântico. Mas em janeiro de 1945, a marinha alemã já simplesmente não tinha nada algo digno de sua atenção. 
 
Até o final da guerra, a bomba foi usada por aeronaves de patrulha em operações contra a frota japonesa com um relativo sucesso. Embora o naufrágio de um pequeno destróier, de escolta o "Aguni", que foi atacado e fortemente danificado pela bomba em maio de 1945, vindo ao fundo mais tarde, dificilmente isto poderia ser considerado como uma vitória significativa, mas leve em conta que uma única bomba agora podia destruir um navio de guerra e de forma totalmente independente do transportador, e isto era um passo enorme na evolução destas armas. 
 

O raio da aplicação efetivo do "ASM-N-2 Bat" era de 32 quilômetros. Isso permitia  o avião transportador para ficar de fora de qualquer defesa existente em navios naquela época e momento de ataque.


Um filme de um ataque simulado pode ser visto neste LINK
 
Até o a bomba bater no alvo ela era quase invisível, por ser pequena e silenciosa, já que não utilizava nenhum motor ou ruído de propulsão, o que tornava pequena a chance de ser abatida, também não era uma tarefa fácil devido ao seu pequeno tamanho, e quando lançada à noite é absolutamente impossível ser abatida pelos sistemas de armas antiaéreos da época. 

 
Além do uso de anti-navio, pelo menos alguns "ASM-N-2 Bat" foram atualizados para atacar pontes bem protegidas na Birmânia. Não havendo relatos de desempenho nesta nova função, mas é bem provável que tenha sido falho nesta missão, por uma série de problemas ela apresentou em ação, conforme veremos.
 

As deficiências e problemas




A operação "ASM-N-2 Bat" identificou uma série de problemas. Seu radar ainda era muito fraco, e facilmente "perdia" o alvo durante operações perto da costa, pois identificava relevos como possíveis alvos.
 
Aliás ficou demonstrado em testes,  a aplicação contra o solo era quase impossível, devido ao que a bomba facilmente era levada a identificar como alvo o terreno irregular. 
 
Cerca de 3.000 bombas "ASM-N-2 Bat" foram feitas durante a guerra, sendo enviadas e estocadas dobradas em caixas, conforme fotos abaixo, em diversas frentes do pacífico.
 
 A maioria delas em agosto 1945 não foram utilizadas - não por causa de sua ineficiência, mas simplesmente por causa de na época o Japão não ter qualquer coisa válida como objetivos dignos do uso de uma arma tão avançada. 
 

Versões

Havia duas versões do ASM-N-2 Bat, designado Swod MK 9 MODEL 0 (ASM-N-2 Bat-0) e Swod MK 9 MODEL 1 (ASM-N-2 Bat-1), a diferença era a carga  de cada uma – 450/100 libras respectivamente.

Abaixo PB4Y  Privateer com  ASM-N-2 Bat  em suportes nas asas  e radar de busca abaixado.





O Sistema ASM-N-2 Bat   equipou diversos esquadrões (VPB-109, VPB-123, VPB-124, VP-104, VPB-104, VP-104 , VP-HL-4 , VP-24, VA-HM-13, VP-24, VP-HL-13, VP-25 ) e muitos destes incorporaram a figura do morcego (BAT em inglês) em suas insígnias.  

VP-HL-13
  

VP-HL-4








VP-24







 VP-25


 Em Setembro de 1947 e início de 1948, o ASM-N-2 Bat foi redesignado como um míssil guiado: 

Designação anterior
Setembro 1947
após Fev 1948
Swod MK 9 MOD 0
ASM-2
ASM-N-2
Swod MK 9 MOD 1
ASM-2a
ASM-N-2a

Após a guerra, a bomba permaneceu em serviço com a Marinha dos Estados Unidos até o início dos anos 1950. 

Houve vários ensaios que demonstraram que o sistema da "ASM-N-2 Bat" era muito vulnerável, e tinha de se melhorar continuamente os meios eletrônicos dela. Nos anos do pós-guerra, a Marinha dos EUA tentou melhorar a precisão e confiabilidade da  ASM-N-2 Bat 's, mas uma série de testes ao vivo contra um navio de guerra obsoleto em 1948 produziu resultados muito decepcionantes.
 
Os últimos resultados falhos deste teste, foram em parte atribuído à interferência radar de outros navios e aeronaves. O que significava que o ASM-N-2 poderia ser enganado por contramedidas de radar muito simples, ASM-N-2 Bat foi retirado do inventário no início de 1950 e silenciosamente retirado de serviço, sendo substituída em serviço pelo Fairchild AUM-N-4/AQM-41 Petrel.

Novas tarefas
 






Após o cancelamento do Projeto Pelicano com a entrada  da sua versão aprimorada em serviço ASM-N-2 Bat sobraram centenas de carcaças de SMOT MK7 Pelican nos depósitos navais e foi planejado converter estas para  um simulador de  ataques Kamikases, para treinar os artilheiros navais, assim um monte de fuselagens PELICANO foram convertidas para alvos antiaéreos no final de 1944 e foram retirados bombardeiros patrulha de sua função original para lançadores de alvos antiaéreos, sendo que estes operavam orbitando acima da frota, lançando os alvos para o exercício de tiro.

 
O mergulho de alto ângulo desses alvos antiaéreos carregandos como carga areia, proporcionou uma excelente simulação de ataques Kamikaze e uma excelente oportunidade para artilheiros da frota para praticar suas habilidades antes de embarcar para o combate.

Este treinador   foi designado alvo de artilharia ABUTRE - MK 16 (ABUTRE - MK 16 ARTILERY TARGET).  

Nesta função a SMOT MK7 Pelican, foi tão eficaz que ela se tornou base de testes de 3 novos projetos, com base nesta arma, mas em diferentes funções, respectivamente FALCON, a MOTH e a POOR MAN’S BAT ( falcão – mariposa e ASM-N-2 Bat de pobre).

O FALCON (falcão)



Esta variação era a mesma MK-16 com um foguete de propelente sólido (do mesmo tipo de foguetes de ataque ao solo) colocado na cauda, este dispositivo foi um banco de ensaio para o míssil foguete ar terra e foi designado como Mk 16 air-to-ground missile (MK16 míssil ar-solo).

A MOTH (mariposa)


A MOTH (MARIPOSA) era uma versão anti-radar da MK-16 Anti-RADAR, reequipada com antenas e receptores de radar que podem ser sintonizados nas frequências de radar inimigo. Como mariposas reais são atraídos para uma chama, os mísseis TRAÇA iria deslizar para baixo para o próprio sinal de radar   dos inimigos para destruí-los, atingindo bem nas instalações de radar com a sua "bomba. 

A Marinha cancelou a MARIPOSA, mas o Corpo Aéreo do Exército passou a desenvolver com sucesso a sua" própria versão do dispositivo.

Poor-Mans BAT "(PMB)




Este projeto foi uma modificação muito barata e pragmática do sistema de orientação por recepção de radar do Pelicano original, acrescentando de um pequeno radar emissor próprio (tubo sob o nariz cone) derivado de um único cone dos radares que eram usados pelo avião emissor no sistema original.

 Esta foi uma ótima ideia que teria tido de muita valia no teatro do Pacífico no final de 1943, se tivesse surgido pelo menos 1ano e meio, e antes do BAT Infelizmente, o staff da US NAVY permaneceu fixado no dispositivo de longe 'mais sexy' -. BAT - e se afastou do conceito PMB.

Pombos em um PELICANO 



Devido a fácil interferência nos sistemas de orientação da Pelican e da Bat O Projeto PELICANO-ORCON tentou resolver problemas iniciais de armas orientadas com televisão e radar - sendo que ambos foram facilmente derrotados por dispositivos de interferência eletrônica entanto, Burrus Skinner convenceu a Marinha dos Estados Unidos de que aves – no caso pombos, tinham grande potencial como um sistema de mísseis de orientação à prova de jam.
 
Os pombos foram treinados para bicar uma imagem de um alvo projetado por uma lente em uma tela em nos cones do míssil - estes sinais, então corrigiam a trajetória do míssil. Os pombos produziram excelentes resultados e eram confiáveis ​​sob condições estressantes, incluindo extremos no frio, vibração, aceleração, pressão, e de ruído.
 
Mesmo que esse sistema de controle orgânico tenha funcionado muito bem, a Marinha não iria fornecer Skinner com dados técnicos suficientes (PELICANO ainda era "TOP SECRET"), e Skinner teve uma tarefa quase impossível de tentar adivinhar as entradas eletrônicas / tensões necessárias para controlar os giroscópios e servomecanismos no pelicano.
 
Devido à não por culpa de Skinner (nem de seus pombos), a Marinha cancelou no início de 1945, o programa.

ASM-N-2 Bat simulador de alvos
 

Da mesma forma que a SMOT MK7 Pelican, a saída de serviço do ASM-N-2 Bat também lhe colocou na trilha de treinador e simulador de alvo.

Após a guerra, algumas foram pintadas  de laranja e  amarelo e  usadas como alvos  de  tiro de sistemas antiaéreos, e nesta função a National Bureau of Standards Missile Development Division em Norco, CA., que canibalizou os estabilizadores da BAT-1, instalou novo pacote de eletrônicos e um novo radar de busca e criou um drone  chamado NOLC-Corvus ( na verdade a designação oficial era de  BATTU/NOLC-Corvus)., que nada  mais era que uma “BAT” melhorada  ou como algumas pessoas  passaram a  chamar  em campo  de “BAT II”, usado até meados dos anos 80, por diversas aeronaves  navais.
 
Não confundir esta nova designação, com a designação da arma TEMCO XASM-N-8 Corvus, que era um requerimento da U.S. Navy para um míssil ar superfície nuclear de longo alcance, que foi testado em Julho de 1959.









 Especificações
 


Dados para ASM-N-2:
Comprimento
3,63 m (11 pés) em 11
Envergadura
3,05 m (10 pés)
Peso
850 kg (1880 lb)
Velocidade
480 km/h (300 mph)
Teto (Max. em lançamento)
8000 m (5 milhas)
Alcance
32 km (20 milhas)
Propulsão
Nenhum
Ogiva
450 kg (perfurante) ou 1.000 lb (bomba de propósito geral)

 

Principais Fontes




[1] Norman Friedman: "EUA Naval Weapons ", Conway Maritime Press, 1983
[2] Frederick I. Ordway III, Ronald C. Wakeford: "International Missile and Space Ships Guide", McGraw-Hill, 1960
[3] Bill Gunston: "A Enciclopédia Ilustrada de foguetes e mísseis", Salamander Books Ltd, 1979



 

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